sábado, 10 de dezembro de 2011

COMO ALIMENTAR UMA TRUPE DE BAIANOS?

A prima - que também é madrinha de casamento - avisou que estaria em São Paulo no final de semana. Aliás, na sexta, outra prima baiana estava aqui também e passeamos numa boa sob a garoa da cidade. Fomos ao Trianon, cruzamos a Paulista e tomamos um café, claro. Quando esta entrou no avião para voltar a Salvador, aquela aportou por aqui e combinamos um almoço em casa. Coisa de Paulista. Coisa de Baiano.

às 10h da manhã começou a aventura de encontrar o cardápio que combinasse com a cidade, com a garoa que ia e vinha, com a nossa bonita relação de amigas (para além de primas), construída - acreditem - num Carnaval... Depois de mexer um pouquinho nos livros, pedir sugestões aos filhos e sair para o mercado com um pé diferente de sapato em cada pé (é sério.), optei por: sopa de cenoura com gengibre (especialidade da casa), salada verde, pernil e alcatra de suíno assados, batata gratinada com parmesão e arroz branco. Narciso acha feio (e sem graça) o que não é espelho. Para homenagear a trupe, tinha que ser confort food, ou, comida macia, acolhedora para a alma e para o coração.

Está tudo cheirando muito muito bem. O filho, faminto, já beliscou de tudo. A filha, mais comedida, colocou Maria Gadu e Caetano Veloso na vitrolinha. Tudo bem que botou Sampa para tocar três vezes. E agora é esperar a trupe baiana chegar para ser alimentada pelo leite bom que jorra aqui nessa casa!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A RESPOSTA CERTA

Esta semana estamos indo à escola de ônibus. Desde segunda. Mas foi só hoje que o filho perguntou por que "nunca mais" (sic) tínhamos ido de táxi, nosso transporte mais corriqueiro. Respondi de pronto que, de ônibus, economizávamos e aí sobraria mais para o Natal. (Nessa brincadeira, gastamos R$12,00, em vez dos R$60,00 que gastaríamos fazendo o percurso de táxi). A resposta é verdadeira, mas não é toda a verdade.

A filha ficou na sua unidade e lá fui eu, com as pastas de trabalho de um ano inteiro dela numa mão e a mão gordinha do filho na outra, descendo a rua que nos levaria à unidade do filho. A gente ali na calçada, apostando corrida, desviando das garagens, dos cocôs de cachorro, dando bom dia aos porteiros que varrem o chão. Quando olhei para a rua, vi vários carros, com colegas dos meus filhos dentro. Eles também faziam o percurso de uma unidade à outra (um quarteirão e meio certinho), só que de carro. Tão perto e a gente se habitua a entrar no carro, colocar os cintos, ajeitar as mochilas, liga, vence o trânsito, vence a falta de vaga, desliga, larga o filho na escola. Tão perto. Mas perdemos a capacidade de atravessar um percurso tão pequenino, protegidos no carro, a pé. E a gente nem para para pensar. Faz. Repete. Se deixa levar.

E a resposta certa para o meu filho estão seria outra: a gente vai de ônibus, meu filho, porque a cidade é nossa, porque temos pernas fortes, porque gostamos de ver as melancias na banca de frutas da esquina, porque é gostoso sentir o cheiro do pão e do café que vem da padaria, porque apostar corrida de manhã é um presente, porque desviar dos cocôs nos deixa mais espertos, porque a gente não tem medo de ocupar os espaços públicos que, afinal, nos pertencem.

A gente vai de ônibus porque quero ensiná-los a cuidar do próprio tempo e não ser atropelado por ele, porque quero ensiná-los a dar bom dia ao motorista e a agradecer quando ele nos deixa descer pela frente se o ônibus está mais cheio. A gente vai de ônibus para lembrar que o mundo é feito de gente diferente: brancos, pretos, orientais, velhos, jovens, crianças, todos na labuta, todos esperando alguma coisa, todos vencendo as distâncias que os separam de seus objetivos.

A gente vai de ônibus porque o sistema de transporte tem de ser nosso aliado e não nosso inimigo. Porque quanto mais gente quiser partilhar, compartilhar, ir junto, dar lugar, deixar passar, segurar a sacola do vizinho, ajudar a descer, ajudar a sair, cumprimentar, responder ao cumprimento, mais essa cidade vai se humanizar. E quanto mais humana ela for, mais nos sentiremos tranquilos por dentro, mais vamos deixar de cair na falácia da "Segurança", mais ela será nossa cidade. Ah! E ainda vai sobrar uns trocos para os presentes de Natal.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MADRE TEREZA DORMIA

Confesso que me senti meio paparazzi, anti-ética, aproveitadora, mas não resisti. Entrei no ônibus junto com três alunas e fui sentar lá no fundão. Achei que era um banco vazio, mas no banco da janela estava ela, sentadinha, dormindo: Madre Tereza de Calcutá. Brincadeira, claro. Mas era mesmo uma religiosa da Ordem de Madre Tereza, com o paramento branco e azul tão característico. Juro que nunca tinha visto uma. Ainda mais no ônibus. E tão ao alcance da minha mão.

Nessas horas sinto uma necessidade imensa de avisar ao mundo que há uma semente de documentário, de história extraordinária da realidade, que precisa ser conhecida... Também sinto muita vontade de falar com meu irmão cineasta. Ele também foi infectado pelo virus do "olhar de fotógrafo"... Numa troca de mensagens engraçada, ele sugeriu que eu fotografasse, eu perguntei se não seria antiético, mas que estava morta de vontade de fazê-lo. Ele respondeu assim: "Vc gostaria que fosse com você? Mas tira". Quando a mensagem chegou, eu já tinha fotografado, claro. E já tinha mandado para um amigo jornalista, que me deu a maior bronca! "Pirou? Tirar foto de estranhos?". Mas já tinha sido.


São Amir Labaki não me perdoaria se esse momento
 ficção na realidade não fosse registrado.

A irmã dormia o sono dos justos, dos quase-anjos, bem ao meu lado. E o traje azul estava perfumado, cheiroso como roupa que seca ao sol, sabe? E aí aconteceu a redenção... De tão profundo dormir, ela acabou se apoiando em mim. Não me importei. Mas num sacolejo do ônibus, ela acordou de sopetão, tomou um susto e percebeu que estava dormindo em cima de mim. Pediu desculpas. E eu mandei: Fique à vontade, não está incomodando. (Acho que estávamos quites a essa altura, certo?).

Logo depois desci do coletivo e, chegando aqui... mostrei a Madre Tereza para vocês. Toamara que ela não me excomungue... A gente não pode deixar uma manifestação de nossa senhora da inspiração passar em branco, não é mesmo?

domingo, 20 de novembro de 2011

RISOTO PAULINHO DA VIOLA



Acordei ainda ouvindo o samba elegante de Paulinho da Viola. Fomos ao show do príncipe e voltei alimentada pela sofisticação da música, dos músicos, da voz de Paulinho e do violão muito bem dedilhado por ele. E, por alguma razão que não explicar nem entender muito bem, arroz com brócoli, na minha cabeça, combinam muito bem. Daí que para fazer a associação entre a toada do dia e o que queria comer foi um átimo: risoto de brocoli com parmesão de verdade.

Providenciei os ingredientes e fui cuidando ponto por ponto. O segredo do risoto, além de ser feito com bons ingredientes, é ser preparado devagar. Mas sem frescura, porque é feito para grudar mesmo, era comida de camponês, das gentes diferenciadas da Itália, que misturavam, o que tinha em casa ao arroz, colocava um queijinho por cima e fim. A gente gosta de risoto - dizem os entendidos - porque ele remete à comidinha feita e dada pela mamma, quando a gente está começando a comer. Arroz bem cozido, misturado com umas coisas bem picadas e dadas com o maior carinho, com o intuito muito claro de fazer a gente crescer, progredir, ficar de barriguinha cheia e, com sorte, dormir, para a mamma ter o merecido descanso. Então é isso, prato fácil, farto e que alimenta corpo, alma e coração!

Meu risoto Paulinho da Viola foi feito assim:

INGREDIENTES
1 cebola
1 maço de brocoli (com algumas folhas)
1 caneca de arroz cru (eu usei arroz normal, mas pode ser o de risoto, ou o arbóreo, ou 7 grãos, ou integral)
4 canecas de água fervente com 1 caldo de legumes dissolvido (opcional)
3 col.sopa de creme de leite (pode ser requeijão também)
1 caneca de queijo parmesão (do bom) ralado
manteiga
sal

MODO DE PREPARO
Coloque as flores de brocoli com talos não muito grandes para cozinhar no vapor (para não ficar aquele fedor de pum na cozinha, esprema meio limão na água que vai fazer o cozimento). Enquanto isso, corte a cebola em rodelas fininhas, coloque para fritar na manteiga. Pique algumas folhas de brocoli e junte à cebola quando esta estiver transparente e molinha. Vá misturando (cuidado que é nessa hora que queima!!!). Acrescente a caneca de arroz e vá deixando fritar. Aí vá acrescentando a água fervente aos poucos e, cada vez que estiver quase secando, coloque mais água.

Quando o arroz estiver quase quase quase bom, acrescente 2/3 dos brocoli cozidos (reserve alguns para enfeitar), o creme de leite e metade do queijo ralado. Misture e tampe para terminar o cozimento só no bafo.
Dez minutos depois misture o restante do brocoli, coloque na travessa e jogue o resto do parmesão ralado por cima e sirva...


Aqui o acompanhante foi filé mignon suíço frito na manteiga e temperado com sal, pimenta do reino e sálvia desidratada + salada de mix de alfaces, abobrinha crua ralada e cenoura ralada. Recomendo!

TORTA DE GELEIA INTEGRAL E DIET

Nem adianta torcer o nariz. Você cresceu, é adulto como eu, então tem mais é que cuidar da saúde. Tem gente que tem glicose elevada, tendência a engordar, intolerância (ou alergia) a lactose, diabetes e coisa e tal. Mas se é gente de verdade, também deve ter vontade de comer um docinho enquanto beberica um café, certo? Pois então tratei de unir a saúde ao bom paladar e fiz essa torta:

Prontinha, brilhante, linda e cheirosa


#Ela tem massa integral (fibras que limpam o intestino e lavam a alma e carboidratos complexos que fazem bem e dão mais saciedade)
#Ela não tem açúcar (bom para quem quer emagrecer
#Não tem ovo (bom para quem tem colesterol aumentado)
#Tem margarina Becel (que não leva leite e não sobe o colesterol)
E, creiam, é beeeemmmm gostosa. Minha mãe e minha irmã aprovaram.

Super fácil de fazer:

MASSA:
2/3 de farinha de trigo integral
2/3 de xícara de aveia (aqui tinha a farinha, mas vale qualquer versão)
1 col.sopa de margarina Becel com sal
1 col.sopa de adoçante Linea (sucralose) culinário
8 col.sopa de água.

Mistura tudo até virar uma massa homogênea, que solta da mão. Abre numa assadeira pequenina (no máximo 20cm de diâmetro) e leva ao forno médio-alto. Aqui em casa levou uns 25min até as bordinhas começarem a dourar.

RECHEIO
1/2 vidro de geleia de morango diet da Taeq (que também usa sucralose)

Quando a massa estiver pronta, coloque a geleia sobre ela e volte para o forno DESLIGADO. Dessa forma, a geleia cola na massa e fica mais durinha. Aqui levou mais uns 20min.
Imagino que fique bom com qualquer outra geleia, ou com compotas de fruta, frutas em calda, etc... E estou com vontade de experimentar com geleia de damasco. Atualmente, uma de minhas preferidas!


Quando eu tirei a torta do forno definitivamente, maridón surgiu com um café. Aí a torta e o pretinho se entenderam tão bem que casaram e viveram felizes para sempre:

Casamento perfeito!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

FILÉ ALTO DE BADEJO COM PESTO GROSSEIRO DE MANJERICÃO

Fui à feira neste domingo e, atendendo aos pedidos do filho, comprei peixe. Um filezão alto e inteiro de badejo. Dava uns 700g. E costumo preparar aqui em casa de um modo muito simples e bem saboroso:

INGREDIENTES:
1 Filé de badejo
2 limões
2 pitadas gordas de sal
1 xícara de salsinha + cebolinha + manjericão
azeite extra-virgem, o quanto baste


MODO DE PREPARO
Coloque o peixe na assadeira, tempere com os limões e o sal. jogue as ervas por cima e regue, sem dó, com o azeite. Tem quem goste de colocar pimenta branca, gengibre em pó ou mostarda, mas aqui em casa, as crias não curtem coisas muito picantes. Fica assim:

Ainda cru, mas já apetitoso...

Aí cobre com papel alumínio e coloca em forno médio-alto. Quando começar a cheirar (uns 20min depois), tira o alumínio e deixa mais uns 20min. Aqui ainda não está no ponto certo, falta torrar um pouco mais em cima. Mas fica mais ou menos assim, ó:

Quase pronto.


Destaco esse molhinho de azeite e limão, que fica com um sabor intrigante, provocativo. Estava bem bom.

A PALHA DA LAURA

Essa receita me chegou via Laura Mafei, minha aluna na Cásper e também admiradora de coisas boas da vida, como o bem-comer. Ela escreveu assim: "Palha Italiana caseira... não tem igual!". Fiquei com tanta vontade que pedi para ela mandar a receita e postar uma foto. Olha aí, facinho facinho e, certamente, delicious:

Antes que ela conseguisse pegar a câmera
para fotografar, garfaram a Palha. 
Prova de que estava delícia


"é só triturar um pacote de biscoito de maizena no liquidificador e, enquanto isso, fazer um brigadeiro também. quando o brigadeiro estiver soltando do fundo da panela, bem mole, você mistura com o biscoito triturado e aí cobre com açúcar. Não esqueça de colocar açúcar também para untar o recipiente. Se quiser, pode usar diferentes tipos de bolacha e também fazer camadinha de bolacha triturada! Quando esfriar, é só cortar os quadradinhos".

domingo, 16 de outubro de 2011

TORTA DE MAÇÃ

Começou ontem. Na verdade, na semana passada, quando recebi o boletim do Senhor Prendado. Mas foi ontem que a vontade de fazer uma torta de maça ficou incontrolável. Como eu nunca tinha feito uma integralmente, postei no Facebook o desejo de encontrar alguma receita de massa tão incrível quanto simples. Foi postar e começar a receber sugestões: Lúcio Freitas (Optei poor deixar com casca), Rino Marconi (optei por não usar outra camada de recheio) e Pamella Gachido, (fora os "curtir").

Li todas, passeei nos meus sites gastronômicos favoritos e comecei o processo de Elisificação das receitas. Em outras palavras, traduzir, ressignificar e dar a minha cara para as receitas. Ao fim de tudo, ficou assim:

INGREDIENTES

MASSA
. 1 1/2 xícara de farinha de trigo 
. 1/4 de xícara de açúcar (usei mascavo, mas pode ser o branco) 
. 1/3 de xícara de manteiga gelada cortada em pedacinhos 
. 3 colheres (sopa) de água

MODO DE PREPARO
Coloque a farinha, o açúcar numa vasilha e a manteiga (melhor que esteja meio gelada) e misture. Vai virar uma farofa úmida. Acrescente a água e vá mexendo. Fica uma massa pastosa que não gruda muito na mão. Espalhe a massa na assadeira (Usei uma de 25cm de diâmetro).


RECHEIO
. 2 maçãs cortadas em fatias de meia-lua, com casca.
. 3 colheres de sobremesa de açúcar
. 1/2 limão
. 1 colher de sobremesa de manteiga
. calela para polvilhar

MODO DE PREPARO
Disponha as maçãs sobre a massa. Esprema o limão e polvilhe o açúcar e a canela. Sobre tudo coloque pedacinhos de manteiga em vários pontos. Leve ao forno. Aqui em casa demorou 35 min em fogo médio-alto.

Veja lá:


A massa recebe a maçã. Operação precisa ser rápida
para a fruta não escurecer



Todos os ingredientes (menos a manteiga) arrumadinhos


A torta assando, ainda branquinha


Pronta e parcialmente devorada


Hmmmmmmmmmmmmmm

A filha, que não é a rainha dos doces frutados, A-MOU! Comeu dois pedações.
Destaque para a massa, que não é nada sem graça e parece um biscoito gostoso; e para o recheio, que ganha um creme delicioso entre a maçã e a massa, resultado do casamento entre o sumo da maçã, o açúcar e manteiga. Por fim, o namoro entre o doce e o azedo é na justa medida e digno de oração...






terça-feira, 11 de outubro de 2011

É QUE AMANHÃ EU VOU À FEIRA

Vai estar uma manhã de sol. Amena. Não cabe chuva na minha ansiedade. Precisa estar sol para que o calor abrace as frutas e volte para mim carregando o cheiro doce/azedo das frutas da estação. Imagino abacaxis, mangas e pêssegos, embora não seja oficialmente época. É que amanhã é feriado e vou à feira! Feira é uma instituição paulistana de grande respeito. É uma festa para os sentidos, uma glória para os alquimistas gastronômicos como eu. Já sei que amanhã tem carambola, peixe, pepino, beterraba, tomate cereja. Mas feira é sempre surpresa. Quando se dá sorte, uma receita - ainda na dimensão volátil dos desejos por sabores e texturas - se apresenta, começa a ganhar corpo...

Amanhã eu conto o que deu...

sábado, 8 de outubro de 2011

DONA PINA - e a arte de adoçar a carne e a vida

Este mês fiz compras pela internet, no Sonda. Estava com preguiça de encarar aqueles corredores, carregar peso, etc e tal. Gosto do serviço, dos produtos, do esquema todo, enfim, sou cliente. A parte que não gosto é a das carnes. Acha cara e, pior, pouco variadas. Aí seguindo a dica da minha sócia Andrea, fui ao açougue mais bacaninha da região e comprei as carnes que usaremos nos próximos dias.

São Paulo tem açougues incríveis e, principalmente, açougueiros muito bons, que tratam a carne com o maior carinho do mundo, não têm preguiça de fazer mil pacotinhos e ainda fazem uma embalagem à vácuo, com etiqueta e tudo. Uma belezinha! Mas, a bem da verdade, não foi nada disso que me fez gostar dessa ida às compras.

Enquanto eu esperava para pagar os cortes (e o açougueiro fazia as embalagens), entrou na minha frente uma senhora de uns 75 anos. E já chegou causando. Esbarrou na caixa que comportava os pacotes de farofa pronta e derrubou tudo lá para dentro do balcão. O atendente que cuidava das minha carnes agiu rápido, pegou as farofas no ar e, dando risada, mandou essa: "Dona Pina, a senhora chegou fazendo carnaval com as farofas?". Ela caiu na risada. E eu também. "Eu nem vi", respondeu ela, enquanto o açougueiro colocava tudinho no lugar e contava para ela o que tinha havido. Mas tudo no maior bom humor.

Aí ela pediu uma peça de carne "redondinha e de boa qualidade", o jovem que a atendia disse que tudo ali no açougue era de boa qualidade, a única coisa que não prestava era ele mesmo. Eu ri e Dona Pina perguntou o que ele tinha dito. Quando eu repeti, ela riu de novo. Velhinha bem humorada essa! Conversamos um pouquinho sobre como o açougue estava cheio, sobre a possibilidade de ser assim por estar perto do 5o dia útil, salários na conta. Demos algumas outras risadas.

Contei para ela, nesse momento, que tenho uma tia avó também chamada Pina (a gente vive num mundo tão besta que cheguei a achar que ela podia se ofender, imaginando que eu a estava chamando de velha por compará-la à minha tia avó, mas oras, ela é velha mesmo, qual o problema??). E Dona Pina, a do açougue, me contou que seu nome, em verdade, é Giuseppina, em homenagem à sua madrinha, também Giuseppina e filha de uma Giuseppa. "Mas minha madrinha era chamada de Bepa e eu fiquei Pina, desde criancinha. É um nome diferente...". Eu disse que achava aristocrático, ela riu, claro. E ainda contei que as duas irmãs de Pina são Pia e Pierina, essa última, minha avó. E ela achou engraçado novamente, "Parece conjunto musical!", concluiu.

E aí nossas compras ficaram prontas, pagamos e fomos embora. Ela com um sorriso nos lábios e eu com um gosto doce na vida. São Paulo, essa cidade imensa, cabe numa conversa de fila de açougue. E uma parte da vida de Dona Pina e da minha, também.

HABEMUS JARDIM

Sempre quis ter um jardim em casa. Mas, morando em apartamento, esse é um sonho prejudicado. Por sorte, esse nossa casa aqui tem um hall de entrada super iluminado, com duas janelas que dão para o infinito, formando o que os especialistas chama de meia-sombra.

Por isso mesmo, já colocara umas plantinhas ali. Inclusive as três mais especiais que tenho (a que ganhei de casamento de uma madrinha, a que minha filha ganhou ao nascer e a que meu filho ganhou ao nascer... ou seja, plantas com 14, 9 e 5 anos de muito amor) e elas vão indo muito bem, obrigada. Mas o espaço tinha muito mais potencial. E hoje, depois de anos de ensaio, resolvi botar a mão na massa. Ou melhor, no bolso e na terra.

Baixei lá na Galvão Flores (Heitor Penteado, 699) e fiz a farra. Comprei mil plantinhas e mil acessórios. De volta para casa, fiz o almoço (aliás, um pernil em pedaços bem gostoso, receita depois...) e comecei a arquitetar o projeto. Mede treliça, alinha na parede, fura com furadeira, pendura o gradil, transporta as plantas, amarra os vasinhos e.... voilà! Temos um jardim suspenso!

Fato que ainda não está completo, mas é como tudo numa casa, em constante melhoria. Deve entrar um banco rústico ali, umas cestas, pedrinhas brancas no chão. Devagar vou produzindo. Querem ver?

Antes...

 Depois!

PS: Favor reparar no catavento.
E aí, gostaram?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A VIDA DÁ UM BOLO ESFARELADO....

A tarde estava meio preguiçosa, aí apareceu a ideia de fazermos um bolo de chocolate. Para facilitar, mistura Dona Benta (a melhor na minha humilde opinião gordola). Para divertir, assamos nas formas novas, de silicone. Mexe tudo e forno. Assou, cheirou, tiramos do forno.


Mas na hora de desenformar... uma lástima!

Bolo Muro de Berlim, todo desmoronado

O bolito quebrou todo... esse negócio de não untar a assadeira (porque é de silicone) deu nisso. Pior é que o danado estava gostoso. Aí pensei, com os pedaços que caírem podemos fazer um pavê. Boa ideia. Mas antes de começar a alquimia, lembrei dos fofíssimos pop-cakes, que fazem um sucesso danado nos aniversários dos Estados Unidos e estão desembarcando só agora por aqui, na carona dos cupcakes.

Cake-pop é pirulito de bolo, simples assim. Exatamente como a receita.

Farelo de bolo + leite condensado (ou doce de leite, ou manteiga, ou creme de leite, etc...) o quanto baste = cake-pop. Eu exagerei no leite condensado, aí ficou mais mole do que deveria para virar pirulito. Caso tivesse ficado mais sequinho, dava para espetar um palito de churrasco, ou de picolé, e virava pop mesmo.

Aqui em casa, virou brigadeiro, porque não ia se sustentar no palitinho. E brigadeiro é a preferência de 10 entre 10 formigões, como nós aqui....

Brigadeiros meio Saint-Patrick, com trevinhos da sorte

E não parece nadinha com aqueles bigadeirões-enganação de padaria de rodoviária não. Esse aqui é gourmet. A gente enrolou no granulado e nuns confeittos que já tinha aqui em casa e ficou assim, lindão e gostosão. Guardamos na geladeira para eles se manterem assim, redondinhos. E evidentemente que a bandeja já está muito mais vazia do que nessa foto. Mas, juro, é daquelas receitas delícia, incrível, facílima e fadada ao sucesso! Fica a Dica!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

ERA SÓ UM MACARRÃO DE DOMINGO

Isso aqui tinha um cheiro...

A gente tinha acabado de voltar de um lauto banquete na casa da minha mãe. Um bacalhau às natas, em homenagem à minha viagem por Portugal. Mas já eram 19h e as crianças precisavam jantar. Ok, mentalmente comecei a fazer o percurso dos armários da cozinha imaginando que alquimia podia dar.

Encontrei macarrão. E avisei que seria macarrão. A recepção foi calorosa. Aí mentalmente fui para a geladeira. Manteiga de boa qualidade, tomates maduros e - ahhhhh! - linguiça calabresa defumada, comprada no intuito de virar feijoada, mas alçada, naquele minuto, à condição de estrela do macarrão do domingo. Mas isso eu não contei, seria uma surpresinha.

Comecei picando a cebola grosseiramente. Enquanto ela derretia junto com a manteiga e ia se tornando transparente, piquei o alho minusculamente e o tomate em pedaços largos. Assim que a filha saiu do banho e acusou o cheiro de cebola fritando na manteiga, era o ponto exato de juntar a ela tomate e alho. Deixei apurar um pouco ao mesmo tempo em que cortava a linguiça em quartos de círculo. 0,5 centímetro é a altura certa da fatia de linguiça. E, sim, isso faz toda a diferença. Foi uma calabresa inteira para a caçarola. Fritou um pouco junto com os outros ingredientes e ficou lá dentro da panela esperando o molho reduzir.

A água já fervia, o macarrão submergiu delicado, se entregando aos poucos ao calor. Ganhou sal e fez o trabalho lentamente. As borbulhas da água do cozimento da massa marcavam o chão e a essa altura apaguei o fogo do molho. Sempre acho que o molho deve descansar depois da intensidade a que é submetido. Afinal, ele precisou alcançar o pico do sabor em pouco tempo. Enquanto o macarrão terminava a caminhada para chegar ao ponto, coloquei - escondida - uma pitadinha de pimenta rosa desidratada no molho e mexi, bem suave. A ideia não era deixar ardido por igual, era oferecer pequenos teritórios de ardidura, encontrados pela língua assim, meio por acaso, como uma surpresa sorrateira.

Virei o macarrão na travessa, molho por cima e aí aquela tarefa de harmonizar o design do prato. Um tomate para cá, duas linguiças ali do outro lado e, voilà! Juro que era para ser um macarrão de fim de domingo... mas foi impossível...

domingo, 4 de setembro de 2011

PICADINHO NA PONTA DA FACA

Cozinhar não é uma coisa que a gente faz assim de qualquer jeito. O ritual começa com o notebook saindo da bancada do escritório e indo para a bancada da cozinha. O passo seguinte é conectar a internet no www.grooveshark.com e bater na busca: ORQUESTRA BRASILEIRA DE MÚSICA JAMAICANA. Enquanto os primeiros acordes de "O Guarani", de Carlos Gomes, começam a soar naquela inconfundível versão ska, é hora de cortar a cebola. em rodelas para a farofa bijoux, pequenininha para o arroz, e grosseiramente para o picadinho na ponta da faca. Aí começam os trabalhos!

A cebola do arroz começa a ficar molinha enquanto é envolvida pelo óleo quente, os grãos de arroz começam a cair e convidam a cebola e o óleo para uma dança, bem rebolada. Chierou? Toma água fervendo. Agora é com a boca do fogo. Na panela ao lado, a cebola do picadinho descansava sobre a manteiga e coberta com farinha de trigo. Acendo o fogo e a cebola fica cheirosa e transparente. A filha grita lá do quarto: "que cheiro bom!". Manteiga + cebola é, de fato, para derreter corações, até os mais sisudos. O filé mignon picado em quadradinhos de 1cm2 armava a parceria com os cogumelos fatiados, a pimenta do reino, o sal e a farinha de trigo, numa vasilha ao lado do fogão. Mas a cebola chamou e a carne não resistiu. Se projetou na caçarola. Química pura. Enquanto o calor transforma a cor e a textura dos ingredientes, a colher de pau vai revirando o que virá a ser o picadinho. Quem já fritou sobe. Quem está cru, desce. O caldo começa a engrossar e, quando ferve, abre espaço para um bom punhado de cheiro verde. Corrijo o sal e a pimenta (a criançada vai almoçar com a gente, então nada de deixar picante demais). No limite.

Agora é a farofa. A filha pediu que não fosse daquela comprada pronta. Pediu que eu fizesse. Aceito o desafio. Cebola em rodelas e essas, fritando na manteiga, precisam quase queimar. Nesse ponto, farinha bijoux nelas. E mexe. Não pode queimar de jeito nenhum. Sal. E mexe. Tá pronta a farofa. É a justa medida para colocar duas colheres de sopa de aceto balsâmico no picadinho. Perfeito. Nem uma gota a mais. Toca Orquestra Imperial no Grooveshark. Tampo o picadinho e só vou mexer de novo na hora de servir, quando ele recebe mais uma mãozada de cheiro verde recém-picado.

A mãe, que veio almoçar com a gente, pediu ovo frito com o picadinho. Ou pastel. Eu fiz os dois. Todos os ovos sobre a manteiga derretida numa frigideira bem grande. Fogo muito baixo, panela tampada. A gema tem de endurecer. E o pastel só não pode queimar. Pronto. Tudo pronto. Temos Picadinho na Ponta da faca. Vai começar o rega-bofe.

Tomo a liberdade de interromper a narrativa porque a música já acabou no note e todas as comidas foram para a mesa. A prova está aqui....

Não quero comentar...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

DE BUSÃO LOGO CEDO

São Paulo tem um esquema curioso de ônibus. Posso ir da minha casa ao Largo 13, lá na Capela do Socorro, com um coletivo só. Mas não posso ir visitar minha mãe, ou levar os guris na escola - no bairro aqui ao lado - da mesma maneira. Tenho de pegar um até a avenida mais próxima, atravessar e pegar outro do lado de lá. Por isso não faço essa aventura todo dia. Mas hoje, como o tempo estava muito bom e a gente terminou de se arrumar antes da hora, resolvi que iríamos de ônibus.

Imagine: eu, duas crianças, mochilas, uma certa tensão no ar - a menina tem medo de se atrasar, o menino acha o transporte barulhento - mas vamos bem dispostos. O primeiro ponto é a meio quarteirão de casa. O ônibus não demora a passar e está - ufa! - vazio. O motorista sacode o carro um bocado, de forma que o mantra é: "Segura firme, filha. Segura firme, filho!". Mas aí acontece uma coisa legal. No busão, salvo os malas de plantão, todo mundo é parceiro. O primeiro bom dia vai para o motorista, que faz uma gracinha com as crianças. O segundo é para a cobradora, que tem sempre unhas compridas e impecáveis, ela ajuda a filha a passar e a soltar a mochila que ficou presa na catraca. Sentamos lá no fundão, com todas as pessoas abrindo espaço para os estudantes que enfrentam o transporte público logo cedo.

Descemos, atravessamos e vamos batendo papo nesse pequeno trajeto. A filha conta que sonha com uma São Paulo em que todo mundo ande de ônibus: "A poluição ia diminuir tanto que nosso nariz nunca mais ia arder". (Alô, dr. Paulo Saldiva! Está precisando de uma assistente?). No ponto do outro lado, onde esperamos o segundo coletivo, tem muito mais gente. Nosso ônibus chega logo e - estamos com sorte - também está quase vazio. Bom dia para o motorista de novo. Aí peço a ele para deixar a gente pagar, girar a catraca, mas descer pela frente, já que está meio cheio. Ele autoriza e, ao mesmíssimo tempo, duas mocinhas, com cara de estudantes da PUC, levantam e oferecem lugar para mim e para a prole. Não disse que tem uma parceria em jogo? Aceitei e fomos sentados juntinhos, no primeiro banco, conversando. Pago as passagens e o cobrador me explica que vai girar quando a gente estiver descendo. Eu agradeço mais uma vez e aí é a vez dele me desejar bom dia. A filha mapeia o ônibus e se preocupa sobre onde é o botãozinho para pedir que o ônibus pare, quando localiza relaxa e vai me contando umas histórias.

Nosso ponto chega logo, descemos pela frente, agradecemos ao motorista com o desejo um bom dia de trabalho. Pergunto aos meninos se está tudo bem, tudo em ordem, tudo no lugar, se tem alguém tenso. A filha admite que estava preocupada em chegar atrasada, mas, olha só, chegamos lá antes da hora que habitualmente chegamos quando vamos de taxi. Não é legal? Pronto. Filhos entregues, Elisa de volta para casa. No segundo ônibus, quando ia passar a roleta, a cobradora me olhou de um jeito engraçado e eu a reconheci na hora. Era a mesma, ou seja o coletivo era o mesmo, que pegamos para ir à escola. Ela brincou comigo lembrando que se eu estivesse pagando com Bilhete Único ia ser cobrado de novo, porque é o mesmo ônibus... Desci aqui na porta de casa feliz pela aventura da manhã e um tantinho esperançosa com a capacidade do ser humano de ser solidário, de se ajudar e de fazer a cidade um lugar, no mínimo, mais agradável. Bom dia!

domingo, 28 de agosto de 2011

A ENTRADA

No almoço de ontem:


O muffin de ervas

É mais uma daquelas invenções simplérrimas, com uma personalidade cheia de sabor, mas muito amiga de variações. Aqui a gente comeu com requeijão, mas racheios diversos devem funcionar: salmão, queijos, cogumelos, presunto cru, ou o que a imaginação deixar e o paladar pedir.


INGREDIENTES:

1 ovo
1/2 xícara (chá) de leite
1 xícara (chá) de farinha
1 xícara (chá) de queijo ralado
1/2 xícara (chá) de salsa picada
2 colher (sopa) de fermento em pó
1 colher (sopa) de cebola picada
1 colher (sopa) de outra erva (Aqui, o filho escolheu orégano...)
1/2 colher (chá) de açúcar (Usei mascavo)
1/2 colher (chá) de sal, pimenta-do-reino a gosto

MODO DE PREPARO
Bata o ovo com o leite e junte os outros ingredientes. Salpique com farinha de trigo as formas de empada e coloque nelas a massa em colheradas. Asse até o centro dos muffins estufar e secar.

 Forma com alumínio. 
Não é tão eficiente, mas fica bonito!


A massa pronta, entrando no forno...



E saindo dele, perfumado, 20 min depois.


Como eu não tinha formas de empada, forrei a forma com papel alumínio. Grudou um pouco, mas ficou delícia. Presença mesmo. Fora que deve ser meio light, porque não vai gordura..... Faz aí e depois me conta.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A VIDA DÁ MAÇÃS E A GENTE FAZ... UM BOLO!

Já fazia uns dias que as maçãs estavam querendo rumar para o amadurecimento pouco aproveitável. Aí juntei a vontade de exercitar a culinária sustentável (ou, aproveitar o que tem em casa para cozinhar) e o sucesso que os bolos integrais têm feito no blog e aqui em casa e decidi fazer este bolo de maçã:


INGREDIENTES
3 ovos
1 xícara (chá) de óleo
3 maçãs com casca picadas
2 xícaras (chá) de açúcar (eu coloquei uma de açúcar branco e outra de mascavo)
3 xícaras (chá) de farinha da trigo (pode trocar uma delas por farinha de aveia, ou farinha de trigo integral)
1,5 colher (sopa) de fermento em pó
1 colher de sopa de canela

MODO DE PREPARO

Em um liquidificador, bata os ovos, o óleo e a maçã. Coloque numa tigela, acrescente o açúcar, a farinha, o fermento e a canela. Misture até estar homogêneo. Unte uma forma com manteiga e farinha de trigo e leve ao forno pré-aquecido, em temperatura média, por cerca de 30 minutos.

Vamos às fotos?

 O bolo saído do forno

 
Cortado... sobe o perfume
O primeiro pedaço, para o filho

Grande detalhe: foi o filhão de 5 anos quem bateu a massa e está aqui provando o primeiro naco. Ainda não conseguiu falar, porque aprendeu que não se conversa de boca cheia. Rá!

sábado, 20 de agosto de 2011

TORTA DE HOT DOG

O sabadão está frio e chuvoso em São Paulo. Noites assim pedem junkfood! Calculando os ingredientes que tinha no armário e na geladeira (ando bem atenta ao reaproveitamento dos alimentos e a uma culinária sustentável, sem desperdício), me veio a vontade de fazer uma torta de hot dog. Fiz e ficou assim:

Saindo do forno...

E é ridiculamente fácil e rápido de fazer. Vamos lá:

INGREDIENTES:
Massa:
3 copos de farinha de trigo
2 copos de leite
100ml de leite
2 ovos
2 col. sopa de manteiga
1 col. sopa de fermento
1 col. sopa de queijo ralado
sal ou caldo de galinha, se desejar.

Recheio
8 salsichas cozidas
1/2 xícara de ervilha ou milho
2 col. sopa de catchup
2 col. sopa de requeijão cremoso

MODO DE PREPARO:

Bata todos os ingredientes da massa no liquidificador. Despeje metade da massa numa assadeira. Disponha o recheio, coloque a outra metade da massa por cima, polvilhe com queijo ralado e forno.
No daqui de casa ficou 25min no fogo médio alto. Pronto. Só servir.


Atentem à textura...

 Um pedacinho para mim


Um pedacinho para cada uma das crianças
E, sempre vale dizer, o recheio pode variar (frango, ricota, queijo, legumes... depende do espírito do dia, ou da noite. Ficou bem bom, os filhotes não me deixam mentir.


 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

COMIDA PARA ABRANDAR TRISTEZA

Os nutricionistas e vigilantes de plantão que me desculpem, mas a gente come sim para aplacar as mazelas da vida. E funciona, viu? Mas precisa seguir umas regras. Por exemplo, azedo não ameniza as decepções. Doce sim, mas não muito doce. Doce na medida do chantilly, quando comparado com seu primo marshmellow. Dá para pescar a sutileza entre um e outro? O primeiro se espalha como espuma pela boca, arrumando a cama para os demais sabores se apresentarem. Ao agir assim, o chantilly, ao mesmo tempo que adoça o paladar na medida, cria uma camada de proteção, reduzindo um tiquinho a percecepção dos gostos. Aí o doce fica menos doce e o azedo, menos azedo. Já o marshmellow (não tem versão em português para essa palavra, tipo marchimelo?) não. Cheio de sortilégios, e diferentemente da espuma, o marshimellow não dá lugar para ninguém, chega arrasando, impondo seu dulçor a tudo, sem discussão. O resultado é que o azedo da torta de limão - num exemplo clássico - se irrita e fica mais azedo, liberando pontas e arestas, sobre o que falarei no próximo parágrafo. Para matar esse efeito colateral, a gente come mais marshmellow. E mais um pouquinho. Até enjoar. Porque ainda tem isso. O primo do chantilly enjoa. É a maneira dele se fazer presente em cada uma das etapas da digestão. É um autoritário.


Doce, mas suave

Como já aparecia no spoiller, o paladar é um servo de dois senhores: do gosto mesmo (doce, amargo, azedo, salgado e aquele de nome esquisito tipo ajinomoto), e da textura. Sim, porque a textura também contribui para a percepção do gosto das coisas. Pão de mel é doce não só porque tem mel e chocolate, mas porque é macio, redondo na língua. O conforto que o doce traz tem a ver, portanto, com essa sensação de carinho na língua, no céu da boca. A entrada do doce é delicada, suave, amorosa. Ao contrário do azedo e do salgado. Um tanto estranha é a presença do amargo. E não deve ser só comigo. Amargo é como um carvalho, denso, pesado, presente. Ocupa a boca toda, se impõe, mas de maneira elegante, madura, cheirosa até. Diferente do azedo que grita e do salgado que coça, o amargo fala baixo. Mas toca fundo. Gostar do amargo é saber conviver e até achar bonito um pouco de dor, de sofrimento. É convidar o que deveria causar medo para entrar, oferecer um chá e conviver com respeito. Quando o amargo resolve flertar com o doce, convidá-lo para uma dança (que não pode ser outra se não uma valsa), acontece um dos casamentos mais bem sucedidos do mundo gastronômico, algo como chocolate meio amargo, chocolate do padre, brigadeiro com um toque de café. Não à toa, o petitfour que vem no pires do café expresso é tão querido.


Elegância do amargo

É esse querer bem todo serve de antídoto para a tristeza. Some o quente e amargo do café , com o doce do açúcar, e a presença sutil e delicada do chantilly. O companheiro de dança ideal aqui é bolo simples, de fubá, por exemplo (e se tiver pedacinhos de goiabada, tanto melhor). Ora um ora outra na boca e lá dentro (mesmo que tímido para se mostrar ao público) nasce um sorrisinho maroto, agradecido pelo carinho.

O balé do fubá com a goiabada