terça-feira, 30 de agosto de 2011

DE BUSÃO LOGO CEDO

São Paulo tem um esquema curioso de ônibus. Posso ir da minha casa ao Largo 13, lá na Capela do Socorro, com um coletivo só. Mas não posso ir visitar minha mãe, ou levar os guris na escola - no bairro aqui ao lado - da mesma maneira. Tenho de pegar um até a avenida mais próxima, atravessar e pegar outro do lado de lá. Por isso não faço essa aventura todo dia. Mas hoje, como o tempo estava muito bom e a gente terminou de se arrumar antes da hora, resolvi que iríamos de ônibus.

Imagine: eu, duas crianças, mochilas, uma certa tensão no ar - a menina tem medo de se atrasar, o menino acha o transporte barulhento - mas vamos bem dispostos. O primeiro ponto é a meio quarteirão de casa. O ônibus não demora a passar e está - ufa! - vazio. O motorista sacode o carro um bocado, de forma que o mantra é: "Segura firme, filha. Segura firme, filho!". Mas aí acontece uma coisa legal. No busão, salvo os malas de plantão, todo mundo é parceiro. O primeiro bom dia vai para o motorista, que faz uma gracinha com as crianças. O segundo é para a cobradora, que tem sempre unhas compridas e impecáveis, ela ajuda a filha a passar e a soltar a mochila que ficou presa na catraca. Sentamos lá no fundão, com todas as pessoas abrindo espaço para os estudantes que enfrentam o transporte público logo cedo.

Descemos, atravessamos e vamos batendo papo nesse pequeno trajeto. A filha conta que sonha com uma São Paulo em que todo mundo ande de ônibus: "A poluição ia diminuir tanto que nosso nariz nunca mais ia arder". (Alô, dr. Paulo Saldiva! Está precisando de uma assistente?). No ponto do outro lado, onde esperamos o segundo coletivo, tem muito mais gente. Nosso ônibus chega logo e - estamos com sorte - também está quase vazio. Bom dia para o motorista de novo. Aí peço a ele para deixar a gente pagar, girar a catraca, mas descer pela frente, já que está meio cheio. Ele autoriza e, ao mesmíssimo tempo, duas mocinhas, com cara de estudantes da PUC, levantam e oferecem lugar para mim e para a prole. Não disse que tem uma parceria em jogo? Aceitei e fomos sentados juntinhos, no primeiro banco, conversando. Pago as passagens e o cobrador me explica que vai girar quando a gente estiver descendo. Eu agradeço mais uma vez e aí é a vez dele me desejar bom dia. A filha mapeia o ônibus e se preocupa sobre onde é o botãozinho para pedir que o ônibus pare, quando localiza relaxa e vai me contando umas histórias.

Nosso ponto chega logo, descemos pela frente, agradecemos ao motorista com o desejo um bom dia de trabalho. Pergunto aos meninos se está tudo bem, tudo em ordem, tudo no lugar, se tem alguém tenso. A filha admite que estava preocupada em chegar atrasada, mas, olha só, chegamos lá antes da hora que habitualmente chegamos quando vamos de taxi. Não é legal? Pronto. Filhos entregues, Elisa de volta para casa. No segundo ônibus, quando ia passar a roleta, a cobradora me olhou de um jeito engraçado e eu a reconheci na hora. Era a mesma, ou seja o coletivo era o mesmo, que pegamos para ir à escola. Ela brincou comigo lembrando que se eu estivesse pagando com Bilhete Único ia ser cobrado de novo, porque é o mesmo ônibus... Desci aqui na porta de casa feliz pela aventura da manhã e um tantinho esperançosa com a capacidade do ser humano de ser solidário, de se ajudar e de fazer a cidade um lugar, no mínimo, mais agradável. Bom dia!

domingo, 28 de agosto de 2011

A ENTRADA

No almoço de ontem:


O muffin de ervas

É mais uma daquelas invenções simplérrimas, com uma personalidade cheia de sabor, mas muito amiga de variações. Aqui a gente comeu com requeijão, mas racheios diversos devem funcionar: salmão, queijos, cogumelos, presunto cru, ou o que a imaginação deixar e o paladar pedir.


INGREDIENTES:

1 ovo
1/2 xícara (chá) de leite
1 xícara (chá) de farinha
1 xícara (chá) de queijo ralado
1/2 xícara (chá) de salsa picada
2 colher (sopa) de fermento em pó
1 colher (sopa) de cebola picada
1 colher (sopa) de outra erva (Aqui, o filho escolheu orégano...)
1/2 colher (chá) de açúcar (Usei mascavo)
1/2 colher (chá) de sal, pimenta-do-reino a gosto

MODO DE PREPARO
Bata o ovo com o leite e junte os outros ingredientes. Salpique com farinha de trigo as formas de empada e coloque nelas a massa em colheradas. Asse até o centro dos muffins estufar e secar.

 Forma com alumínio. 
Não é tão eficiente, mas fica bonito!


A massa pronta, entrando no forno...



E saindo dele, perfumado, 20 min depois.


Como eu não tinha formas de empada, forrei a forma com papel alumínio. Grudou um pouco, mas ficou delícia. Presença mesmo. Fora que deve ser meio light, porque não vai gordura..... Faz aí e depois me conta.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A VIDA DÁ MAÇÃS E A GENTE FAZ... UM BOLO!

Já fazia uns dias que as maçãs estavam querendo rumar para o amadurecimento pouco aproveitável. Aí juntei a vontade de exercitar a culinária sustentável (ou, aproveitar o que tem em casa para cozinhar) e o sucesso que os bolos integrais têm feito no blog e aqui em casa e decidi fazer este bolo de maçã:


INGREDIENTES
3 ovos
1 xícara (chá) de óleo
3 maçãs com casca picadas
2 xícaras (chá) de açúcar (eu coloquei uma de açúcar branco e outra de mascavo)
3 xícaras (chá) de farinha da trigo (pode trocar uma delas por farinha de aveia, ou farinha de trigo integral)
1,5 colher (sopa) de fermento em pó
1 colher de sopa de canela

MODO DE PREPARO

Em um liquidificador, bata os ovos, o óleo e a maçã. Coloque numa tigela, acrescente o açúcar, a farinha, o fermento e a canela. Misture até estar homogêneo. Unte uma forma com manteiga e farinha de trigo e leve ao forno pré-aquecido, em temperatura média, por cerca de 30 minutos.

Vamos às fotos?

 O bolo saído do forno

 
Cortado... sobe o perfume
O primeiro pedaço, para o filho

Grande detalhe: foi o filhão de 5 anos quem bateu a massa e está aqui provando o primeiro naco. Ainda não conseguiu falar, porque aprendeu que não se conversa de boca cheia. Rá!

sábado, 20 de agosto de 2011

TORTA DE HOT DOG

O sabadão está frio e chuvoso em São Paulo. Noites assim pedem junkfood! Calculando os ingredientes que tinha no armário e na geladeira (ando bem atenta ao reaproveitamento dos alimentos e a uma culinária sustentável, sem desperdício), me veio a vontade de fazer uma torta de hot dog. Fiz e ficou assim:

Saindo do forno...

E é ridiculamente fácil e rápido de fazer. Vamos lá:

INGREDIENTES:
Massa:
3 copos de farinha de trigo
2 copos de leite
100ml de leite
2 ovos
2 col. sopa de manteiga
1 col. sopa de fermento
1 col. sopa de queijo ralado
sal ou caldo de galinha, se desejar.

Recheio
8 salsichas cozidas
1/2 xícara de ervilha ou milho
2 col. sopa de catchup
2 col. sopa de requeijão cremoso

MODO DE PREPARO:

Bata todos os ingredientes da massa no liquidificador. Despeje metade da massa numa assadeira. Disponha o recheio, coloque a outra metade da massa por cima, polvilhe com queijo ralado e forno.
No daqui de casa ficou 25min no fogo médio alto. Pronto. Só servir.


Atentem à textura...

 Um pedacinho para mim


Um pedacinho para cada uma das crianças
E, sempre vale dizer, o recheio pode variar (frango, ricota, queijo, legumes... depende do espírito do dia, ou da noite. Ficou bem bom, os filhotes não me deixam mentir.


 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

COMIDA PARA ABRANDAR TRISTEZA

Os nutricionistas e vigilantes de plantão que me desculpem, mas a gente come sim para aplacar as mazelas da vida. E funciona, viu? Mas precisa seguir umas regras. Por exemplo, azedo não ameniza as decepções. Doce sim, mas não muito doce. Doce na medida do chantilly, quando comparado com seu primo marshmellow. Dá para pescar a sutileza entre um e outro? O primeiro se espalha como espuma pela boca, arrumando a cama para os demais sabores se apresentarem. Ao agir assim, o chantilly, ao mesmo tempo que adoça o paladar na medida, cria uma camada de proteção, reduzindo um tiquinho a percecepção dos gostos. Aí o doce fica menos doce e o azedo, menos azedo. Já o marshmellow (não tem versão em português para essa palavra, tipo marchimelo?) não. Cheio de sortilégios, e diferentemente da espuma, o marshimellow não dá lugar para ninguém, chega arrasando, impondo seu dulçor a tudo, sem discussão. O resultado é que o azedo da torta de limão - num exemplo clássico - se irrita e fica mais azedo, liberando pontas e arestas, sobre o que falarei no próximo parágrafo. Para matar esse efeito colateral, a gente come mais marshmellow. E mais um pouquinho. Até enjoar. Porque ainda tem isso. O primo do chantilly enjoa. É a maneira dele se fazer presente em cada uma das etapas da digestão. É um autoritário.


Doce, mas suave

Como já aparecia no spoiller, o paladar é um servo de dois senhores: do gosto mesmo (doce, amargo, azedo, salgado e aquele de nome esquisito tipo ajinomoto), e da textura. Sim, porque a textura também contribui para a percepção do gosto das coisas. Pão de mel é doce não só porque tem mel e chocolate, mas porque é macio, redondo na língua. O conforto que o doce traz tem a ver, portanto, com essa sensação de carinho na língua, no céu da boca. A entrada do doce é delicada, suave, amorosa. Ao contrário do azedo e do salgado. Um tanto estranha é a presença do amargo. E não deve ser só comigo. Amargo é como um carvalho, denso, pesado, presente. Ocupa a boca toda, se impõe, mas de maneira elegante, madura, cheirosa até. Diferente do azedo que grita e do salgado que coça, o amargo fala baixo. Mas toca fundo. Gostar do amargo é saber conviver e até achar bonito um pouco de dor, de sofrimento. É convidar o que deveria causar medo para entrar, oferecer um chá e conviver com respeito. Quando o amargo resolve flertar com o doce, convidá-lo para uma dança (que não pode ser outra se não uma valsa), acontece um dos casamentos mais bem sucedidos do mundo gastronômico, algo como chocolate meio amargo, chocolate do padre, brigadeiro com um toque de café. Não à toa, o petitfour que vem no pires do café expresso é tão querido.


Elegância do amargo

É esse querer bem todo serve de antídoto para a tristeza. Some o quente e amargo do café , com o doce do açúcar, e a presença sutil e delicada do chantilly. O companheiro de dança ideal aqui é bolo simples, de fubá, por exemplo (e se tiver pedacinhos de goiabada, tanto melhor). Ora um ora outra na boca e lá dentro (mesmo que tímido para se mostrar ao público) nasce um sorrisinho maroto, agradecido pelo carinho.

O balé do fubá com a goiabada

domingo, 14 de agosto de 2011

FELIZ DIA DOS PAIS!

Nesse dia dos pais, o blog só tem uma coisa a desejar: UMA VIDA DOCE E COMPARTILHADA DE PERTO hoje e sempre!

Brigadeiro de colher,
feito a quatro mãos e comido por oito bocas

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A TRÍADE (parte 02)

Não sei quem veio primeiro, meu pai ou a Flip a me apresentar os novos-africanos da literatura. Pepetela, Agualusa (que ainda não li, mas conheci na Livraria da Vila) e Mia Couto. Entraram em minha vida fazendo estrago, mexendo com a maneira como eu falava e até na ordenação dos pensamentos. Coisa parecida, só com Guimarães Rosa em tempos de vestibular. Para falar a língua da vida real, tinha que pensar. Se não, saía meio Guimarães. Coisa incrível. Mas fui lendo as maluquices e os mundos imaginários dos africanos e conhecendo aquilo tão bem... entre um e outros, li Ryszard Kapuściński, com seu Ébano e outros escritos, livros-reportagem que me contavam mais e mais daquela África tão distante, mas tão conhecida minha. Sobre o único objeto que a maioria dos africanos têm (uma panela, um balde, uma garrafa) e como se agarram àquilo, com toda a força, a ponto de se deixar morrer abraçado ao camelo no deserto quando o animal se vai primeiro. Falava-me da única refeição do dia e dos olhos da fome. Falava da corrupção e da falta de um projeto de nação. De como foi cruel a colonização do século 19 e de como isso deixa marcas profundas nos países, claro, mas nas pessoas. Essas sim, marcadas por crenças difíceis de arrancar. De um lado, os ficcionistas abrindo Jesusalém, um mundo imaginário, quase onírico. Do outro, o repórter rasgando as mazelas. Eu sempre me soube um tanto africana, por origem e por respeito, talvez até mais por respeito. Fui aos terreiros de Candomblé levada por meus pais, vi as fotos de Vergè e as artes de Caribé por toda Salvador. E cresci em Salvador vendo as meninas trançarem os cabelos e andarem com latas na cabeça. E não faz tanto tempo assim.

E enquanto eu pensava na vida separando as espinhas da sardinha metida no cuscuz, finalmente entendi que, brasileira que sou, vivo numa tríade, cada vértice num continente. Ponta aqui, ponta na África, ponta em Portugal. Cada ponto unido por um fio, que talvez seja a língua comum, talvez a história que testemunhamos e construímos todos juntos. Tenho, portanto, três origens, três pertenças. Posso abraçar num golpe só o que fui e o que sou. E que só fazem sentido, se juntas. Reconheci que ir à Portugal será como reverenciar uma de minhas minhas pátrias, tomar posse de algo que sempre foi meu, mas sobre o qual nunca pude estender meus olhares. A minha África sim, essa já me habita desde pequena. Faltava meu Portugal. Sinto como aquelas pessoas que ficam décadas sem voltar ao lugar de origem e resolve voltar. É preciso passar na casa de cada um dos parentes ainda vivos, que são o elo para o passado e a quem se honra na projeção do futuro. Faltava honrar esse Portugal que há em mim, minha terra, minha origem e pertencimento. Quero ouvir o português que vem da Europa, salgado pelo mar, amargo pelas agruras de não se ser mais um império, mas doce e elegante por tanto tempo curtindo. E conhecer - como disse minha amiga Lu Porto - esse velho amigo, com quem me correspondo há tanto tempo sem nunca ter abraçado.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A TRÍADE - (parte 01)

Sofro de uma estranha atração por Portugal. Não tenho família lá, nem história que me remeta às terras de além-mar. Ainda assim, sempre soube que minha porta de entrada para a Europa seria Portugal. Algo como o meu lugar no Velho mundo. E eis que me apareceu a oportunidade de cruzar o Atlântico e juntar as duas pontas. Desde que essa possibilidade se anunciou, comecei a catar os cacos e a tentar entender essa força que me empurra para lá. Enquanto o artigo que vou apresentar no congresso em Braga, norte do país, ia sendo traduzido para o inglês, eu ia passeando pelas irregulares ruas de Paraty, no Rio de Janeiro, e me dando conta que, um dia, el-rey passou por ali, ou perto dali, ou alimentado pelo ouro que - esse sim - passou por ali. A arquitetura colonial da cidadezinha fluminense é a herança viva de que quando Portugal se estendeu para cá, um dos tentáculos quedou ali, fazendo da igreja cartão postal - Santa Rita, é isso? - a lembrança do lado de lá no lado de cá. Foi lá em Paraty também, durante a Flip que nos cercava, que tive notícia e vivenciei o fenômeno valter hugo mãe, sobre o qual já escrevi no O Blog do Chico. Parecia brincadeira, mas Portugal resolveu que ia me cercar por todos os lados.

O fato é que tomei gosto pela brincadeira de caçar as peças que me unem àquele país. Puxei da memória e lembrei de um professor do cursinho que ensinava literatura Portuguesa e, um pouco interpretando no tablado, contava como era o povo português e daí os porquês de sua literatura. Estive ao lado de Sebastião, estive na Tabacaria, nas serras e nas cidades e voei um tanto na passarola nessas aulas. Lembrei do documentário José & Pilar. Tão lindo, tão rico, tão engraçado, tão delicado e arrasador. Fui entendendo que os portugueses têm um riso contido entre as queixas, um fadismo cômico, um rir-se sem rir das coisas realmente mais sem sentido da vida. Saramago fazia assim. valter hugo faz assim. Como cabe tamanho brotamento de risadas numas pessoas com gestos, falas e postura tão suaves? Instigante, né? Acho os portugueses e as portuguesas finos, elegantes, até na maneira de e convidar a rir. Ou a chorar.


Mas foi durante o almoço de ontem, enquanto separarava as espinhas de uma sardinha metida num cuscuz paulista (santa ironia!) que entendi um algo a mais. Isso sim eu considero relevante. E foi a literatura, claro!, que me fez cruzar a ponte. As pontes. Fechar a tríade. Vou refletir um pouco sobre o caminho para contar essa história e assim que essa forma tiver corpo, posto aqui.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

AQUILO QUE ATRAI E REPULSA

Igreja no Largo do Paissandu

Como se chama aquilo que atrai e repulsa, que fascina, mas mete medo? Quando eu era bem criança, tinha uma professora que me provocava essa sensação. E hoje, passeando pelo centrão centrão de São Paulo, dei por mim entendendo que a Praça da República e o Largo do Paissandu, por exemplo, ao mesmo tempo que me convidam a olhar, a desvendar, me lembram a todo momento que eu não pertenço àquilo ali. Nem andando nas calçadas, entre as gentes, seria capaz de me misturar à multidão, anonimamente e de forma que um outro alguém, passando ali e olhando pela janela do ônibus, pudesse me ver sem me ver de fato.

Não sei até que ponto não pertencer é uma decisão minha (também não me sinto misturada à Oscar Freire, mas nesse caso, por convicção mesmo), ou até que ponto o pertencer nasce com a gente e se manifesta, sem que haja muito controle. Há pouco escrevi para uma amiga no Facebook que eu e ela somos turistas aqui em São Paulo, ambas cariocas. Então vemos isso aqui com olhos estrangeiros e um tanto agradecidos. Tem uma beleza aqui que os de dentro nem sempre veem... Mas o olho do turista também sente que por mais que se encante, há algo que não se alcança. E, por vezes, dói.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ADORÁVEL CIDADE

Os derrotados que me perdoem, mas há uma São Paulo comovente de tão humana, que caminha totalmente na direção contrária da pressa, da competição, do desprezo completo ao concidadão no carro ao lado, ou na faixa de pedestres logo ali na frente. No último domingo estive no Centro Cultural São Paulo. Fui assistir junto com a filha a peça Canção de amor em Rosa, um espetáculo infantil todo amarrado com as músicas de Noel Rosa, o Poeta da Vila. Mas não foi a peça que aquietou meu coração. Ela foi só a cereja do sunday.

Tudo começou antes, na chegada ao CCSP. Vários monitores de colete vermelho atenderam a gente calorosamente e, creiam!, sabiam dar as informações. O ingresso era baratinho, não tinha fila na bilheteria e os dois atendentes eram muito bem humorados. Enquanto a porta do teatro não abria, fui passear com a filha. Gibiteca, biblioteca, exposições e, mais importante, GENTE! Gente passeado, gente estudando, gente lendo, gente dançando (sim! sabe os b-boys? as meninas que dançam street, então!) e gente matando o tempo calmamente no domingo bem ensolarado e quente. Simples assim.

Um monte de velhinhos, um monte de crianças e muito espaço para circular. Lanchonete quase sem fila e um teatro muito confortável. De quebra, vimos o Nasi, ex-Ira, ensaiando com sua banda nova e emprestando os acordes para os dançarinos do piso de cima. Foi uma festa para os olhos, para os ouvidos e para aquele gosto amargo que às vezes a gente cultiva depois de respirar tantos dias seguidos o bafo da Marginal. Foi uma espécie de antídoto e de carregamento saudável das baterias. São Paulo, afinal, tem uma casca empoeirada, mas limpando um pouco, é possível encontrar um colo tépido e convidativo. Ainda bem.

Em tempo, a peça entra em cartaz no Sesc Ipiranga no dia 13/08 e vai até o feriado de 07 de Setembro. Recomendo!

O OVO DO SUCESSO!

Amigos, os comentários no Blogspot costumam dar pau. Talvez por isso, ou não, vários leitores me mandaram e-mails ou mensagens pelo Twitter. Tomo a liberdade de reproduzir alguns aqui.

1.Elisa,
adorei a receita do ovo no buraco. Foi um sucesso aqui em casa. Inovei com pão árabe, mas infelizmente só lembre de tirar uma foto para vc quando a comilança já havia começado. Então, seguem aí fotos de um ovo no buraco meio comido.
Beijinhos! (Goya Lira)
 
2.Oi Licota, adorei seu blog. Vou copiar algumas receitas para a felicidade geral da família.
Um grande beijos extensivo ao marido e filhos.
Beijos
Guara
 
3.Eduardo Perdigão -


sábado, 6 de agosto de 2011

A INCRÍVEL HISTÓRIA DO OVO NO BURACO

Lá em casa é assim. Se eu perguntar "O que vamos jantar hoje?", a resposta é sempre una: OVO NO BURACO!! A receita não é minha. Peguei via twitter com o super repórter Flávio Gomes (@flaviogomes69), ele ia twitando o passo a passo e a cada novo post, ficava babando. A ideia é simples e arrebatadora, como as grandes ideias, e deliciosa, como as grandes receitas. E foi isso que a gente comeu dia desses. É assim ó:

1. Enquanto a manteiga derrete na frigideira, você faz um buraco no centro do pão de forma.

 Pão de forma para as crianças...

... e light integral para mim

2. Quebre o ovo, com cuidado para a gema não estourar, dentro desse buraco. Tampe a frigideira e deixe fritar um pouco.

 A precisão da gema no olho do buraco

3. Quando estiver soltando do fundo, vire delicadamente. Essa é a hora de colocar sal e, caso queira, uma fatia de queijo para derreter por cima (Fala, Gordola!!!!). Deixe fritar mais um pouquinho e pronto! É só comer!!!

 O da filha é com queijo derretido...

O do filho é puro, mas vezes dois...


Aqui em casa, a gente gosta com a gema meio mole meio dura, mas dá para achar o ponto ideal para cada gourmand... Olha aí a cara do bichinho. Alguém duvida que é incrível?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

BANDAS, FANFARRAS E FOLIAS

Em idos de 2001, quando eu trabalhava na Silveira Martins, lá no centrão de São Paulo, sexta-feira era um dia mais que esperado. Por algumas razões diferentes das que vocês estão imaginando aí. A primeira é que era dia de peixe no boteco pé sujo em que eu almoçava sempre. Delícia. Também era o dia em que o velhinho dono da padaria me presenteava com um saquinho de carolinas. Ele me via grávida, carregando a barriga por ali e achava que a minha vida podia ser mais doce. Mas tinha outra boa razão para eu gostar da sexta.

Sempre por volta das 11h a gente começava a ouvir os primeiros acordes. O trompete chamava, e os outros quatro instrumentos respondiam: tuba, trombone de vara, bumbo e prato. Lá vinha a fanfarra! Eles andavam por ali tocando, uniformizados, animando a moçada e lembrando a todos que era sexta-feira! Minha chefe dizia que eles vinham recolher o dinheirinho do final de semana. Tem coisa mais sublime que em pleno centro de São Paulo uma bandinha ganhar a féria? Eu adorava. A gente corria para as janelas (onde a paisagista plantou manjericão como forma de espantar o cheiro de gordura que vinha daquele mesmo boteco em que eu almoçava... às 17h o cheiro do tempero subia. Imagine a festa...) e ficava acompanhando o vai-e-vem dos velhotes que tocavam hinos, marchinhas de carnaval, algumas trilhas de cinema e as clássicas das bandinhas.

Contei tudo isso para dizer que às 8h, quando passei em frente ao Parque Trianon, na Paulista, um grupo de aposentados, vestidos com coletes cor de abóbora da Força Sindical, pareciam esperar pacientemente por alguma coisa. Para amenizar a espera, a central sindical contratou justamente uma bandinha. Eram quatro integrantes e tocavam alheios à manifestação que, sem dar muita conta, ajudavam a organizar. Horas mais tarde, o evento tomou a avenida. Enquanto eu voltava para casa e cruzava a via de ponta a ponta, vi muitos muitos, muitos manifestantes, uniformizados, portando bandeiras (parecia mais parada militar que passeata mesmo) e respondendo aos clamores dos organizadores. Todas as centrais estavam lá representadas. Aliás, todas não. A CUT não deu o ar da graça. Eu vi também muitos carros de som, com discurseiros e jingles tocando. Mas não vi mais a fanfarra, que deve ter sido engolida pela multidão.

AMOR POR SALADA

Quem disse que salada é chato? Chato é alface crespa e tomate todo dia. Com azeite e vinagre e sal. Salada é e pode ser a alegria do almoço. Eu tenho dois caminhos para conseguir esse feito: ingredientes que dão alegria e molhos que valem todo o prazer de comer. Na primeira lista: queijos, azeitona, doritos, pedacinhos de frango, presunto de parma, carpaccios, kani, frutas e por aí vai. Na segunda lista, a dos molhos, hoje foi dia de curtir um aqui: Gengibre com mel. Excelente para esse friozinho safado de São Paulo. Receita mais que rápida: 1 limão expremido, 1 colher de sobremesa de mel e 1 colher de chá de gengibre ralado. Misturou, acabou! No meu prato ainda coloco azeite e um pouquinho de sal. Divino. Juro.

E gosto também porque esse molho me lembra um tempo feliz. Trabalhava em Higienópolis, pertinho da Angélica, e tinha o maior prazer em descobrir pequenos restaurantes ou cafés que serviam almoço. Foi no café Duetto que descobri esse molho de gengibre. Eles serviam quiche de bacalhau rodeado por salada de folha e o molhinho vinha a parte. O doce/ardido do mel com gengibre casa lindamente com o limão. E o salgado do bacalhau termina de fazer a festa do paladar. Pronto, acabei de almoçar e já estou com água na boca de novo. Enquanto tento achar a receita do quiche de bacalhau, fica aí convosco uma saída simples e incrível para deixar outras saladas mais felizes:

INGREDIENTES:
4 figos frescos cortados em cruz (as quatro partes não podem se separar)
vinagre balsâmico
mel

MODO DE PREPARO
Coloque os figos com a casca para baixo numa assadeira e regue com o aceto e o mel.
Leve ao forno até ter se formado uma calda grossa e escura (fruto da alquimia perfeita entre vinagre, mel e os sumos do figo).
Espere esfriar e coloque sobre uma cama de folhas.


Aí é ajoelhar e comer. Há quem faça com pêssego. Nunca fiz, mas qualquer dia experimeto.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

TEMOS NOSSA DECISÃO

Ontem, quando o ônibus entrava no Buraco da Paulista, o cobrador recebeu uma mensagem no celular e leu alto para todo mundo ouvir: "A passeata está entrando na Paulista". Chiadeira geral, claro. São Paulo é a única megalópole em que as pessoas acham que não pode haver manifestação de rua, porque se não ferra o trânsito. Culpa das rádios (mas isso é outra história, para outro post). Eu, que frequento passeatas desde os 7 anos -  cantando a plenos pulmões "Diretas Já, queremos estudar, Dona Esther não quer deixar!", ainda que não sobesse ao certo quem era essa tal de Dona Esther -, ao contrário dos colegas de coletivo, adoro passeata na Paulista. Dane-se o trânsito. Vai de metrô se está atrasado.

Assim que o cobrador deu o aviso, corri para o Twitter no celular para ver se alguém dizia quem eram os manifestantes. Nada. Nem uma só linha. Mensagem para o marido. Também não tinha informação. E nesse exato momento comecei a ouvir uma corneta. Uma corneta que pontuava uma música. Que eu não conhecia, mas que era visivelmente sofisticada. E - pimba - o ônibus encontra a passeata. Tinha umas 500 pessoas, que iam cantando lindamente e empunhando tampas de privada. A corneta marcava, os manifestantes respondiam cantando e levantando e abaixando as tampas brancas de latrina. As faixas diziam assim: profissionais da cultura, chegou a hora de perder a paciência.
Twittei, claro. Era uma visão naquela Paulista de gente que não gosta de manifestação. Finalmente uma senhora no banco ao lado do meu soltou: "Eles têm razão, a cultura desse país está assim mesmo", se referindo à alusão que os artistas faziam à situação cultural do país, quando passavam os assentos de latrina pela cabeça. Adorei.

Só quando cheguei à faculdade liguei a passeata ao movimento dos artistas contra a restrição de verbas públicas para a Cultura. Tem mais aqui http://goo.gl/8GLnm, inclusive o vídeo que os manifestantes fizeram. Bem legal por sinal. E aí descobri o site do movimento também: www.culturaja.com. Só não achei, ainda, as músicas que os artistas compuseram e estavam lá cantando. Se eu achar, posto aqui. De resto, quero agradecer desde já aos divertidos manifestantes que alegraram a Paulistas e lembraram que a rua é do povo, assim como a cultura e a cidade. Tudo com bom humor e irreverência.