quarta-feira, 3 de agosto de 2011

BANDAS, FANFARRAS E FOLIAS

Em idos de 2001, quando eu trabalhava na Silveira Martins, lá no centrão de São Paulo, sexta-feira era um dia mais que esperado. Por algumas razões diferentes das que vocês estão imaginando aí. A primeira é que era dia de peixe no boteco pé sujo em que eu almoçava sempre. Delícia. Também era o dia em que o velhinho dono da padaria me presenteava com um saquinho de carolinas. Ele me via grávida, carregando a barriga por ali e achava que a minha vida podia ser mais doce. Mas tinha outra boa razão para eu gostar da sexta.

Sempre por volta das 11h a gente começava a ouvir os primeiros acordes. O trompete chamava, e os outros quatro instrumentos respondiam: tuba, trombone de vara, bumbo e prato. Lá vinha a fanfarra! Eles andavam por ali tocando, uniformizados, animando a moçada e lembrando a todos que era sexta-feira! Minha chefe dizia que eles vinham recolher o dinheirinho do final de semana. Tem coisa mais sublime que em pleno centro de São Paulo uma bandinha ganhar a féria? Eu adorava. A gente corria para as janelas (onde a paisagista plantou manjericão como forma de espantar o cheiro de gordura que vinha daquele mesmo boteco em que eu almoçava... às 17h o cheiro do tempero subia. Imagine a festa...) e ficava acompanhando o vai-e-vem dos velhotes que tocavam hinos, marchinhas de carnaval, algumas trilhas de cinema e as clássicas das bandinhas.

Contei tudo isso para dizer que às 8h, quando passei em frente ao Parque Trianon, na Paulista, um grupo de aposentados, vestidos com coletes cor de abóbora da Força Sindical, pareciam esperar pacientemente por alguma coisa. Para amenizar a espera, a central sindical contratou justamente uma bandinha. Eram quatro integrantes e tocavam alheios à manifestação que, sem dar muita conta, ajudavam a organizar. Horas mais tarde, o evento tomou a avenida. Enquanto eu voltava para casa e cruzava a via de ponta a ponta, vi muitos muitos, muitos manifestantes, uniformizados, portando bandeiras (parecia mais parada militar que passeata mesmo) e respondendo aos clamores dos organizadores. Todas as centrais estavam lá representadas. Aliás, todas não. A CUT não deu o ar da graça. Eu vi também muitos carros de som, com discurseiros e jingles tocando. Mas não vi mais a fanfarra, que deve ter sido engolida pela multidão.

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