sábado, 10 de dezembro de 2011

COMO ALIMENTAR UMA TRUPE DE BAIANOS?

A prima - que também é madrinha de casamento - avisou que estaria em São Paulo no final de semana. Aliás, na sexta, outra prima baiana estava aqui também e passeamos numa boa sob a garoa da cidade. Fomos ao Trianon, cruzamos a Paulista e tomamos um café, claro. Quando esta entrou no avião para voltar a Salvador, aquela aportou por aqui e combinamos um almoço em casa. Coisa de Paulista. Coisa de Baiano.

às 10h da manhã começou a aventura de encontrar o cardápio que combinasse com a cidade, com a garoa que ia e vinha, com a nossa bonita relação de amigas (para além de primas), construída - acreditem - num Carnaval... Depois de mexer um pouquinho nos livros, pedir sugestões aos filhos e sair para o mercado com um pé diferente de sapato em cada pé (é sério.), optei por: sopa de cenoura com gengibre (especialidade da casa), salada verde, pernil e alcatra de suíno assados, batata gratinada com parmesão e arroz branco. Narciso acha feio (e sem graça) o que não é espelho. Para homenagear a trupe, tinha que ser confort food, ou, comida macia, acolhedora para a alma e para o coração.

Está tudo cheirando muito muito bem. O filho, faminto, já beliscou de tudo. A filha, mais comedida, colocou Maria Gadu e Caetano Veloso na vitrolinha. Tudo bem que botou Sampa para tocar três vezes. E agora é esperar a trupe baiana chegar para ser alimentada pelo leite bom que jorra aqui nessa casa!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A RESPOSTA CERTA

Esta semana estamos indo à escola de ônibus. Desde segunda. Mas foi só hoje que o filho perguntou por que "nunca mais" (sic) tínhamos ido de táxi, nosso transporte mais corriqueiro. Respondi de pronto que, de ônibus, economizávamos e aí sobraria mais para o Natal. (Nessa brincadeira, gastamos R$12,00, em vez dos R$60,00 que gastaríamos fazendo o percurso de táxi). A resposta é verdadeira, mas não é toda a verdade.

A filha ficou na sua unidade e lá fui eu, com as pastas de trabalho de um ano inteiro dela numa mão e a mão gordinha do filho na outra, descendo a rua que nos levaria à unidade do filho. A gente ali na calçada, apostando corrida, desviando das garagens, dos cocôs de cachorro, dando bom dia aos porteiros que varrem o chão. Quando olhei para a rua, vi vários carros, com colegas dos meus filhos dentro. Eles também faziam o percurso de uma unidade à outra (um quarteirão e meio certinho), só que de carro. Tão perto e a gente se habitua a entrar no carro, colocar os cintos, ajeitar as mochilas, liga, vence o trânsito, vence a falta de vaga, desliga, larga o filho na escola. Tão perto. Mas perdemos a capacidade de atravessar um percurso tão pequenino, protegidos no carro, a pé. E a gente nem para para pensar. Faz. Repete. Se deixa levar.

E a resposta certa para o meu filho estão seria outra: a gente vai de ônibus, meu filho, porque a cidade é nossa, porque temos pernas fortes, porque gostamos de ver as melancias na banca de frutas da esquina, porque é gostoso sentir o cheiro do pão e do café que vem da padaria, porque apostar corrida de manhã é um presente, porque desviar dos cocôs nos deixa mais espertos, porque a gente não tem medo de ocupar os espaços públicos que, afinal, nos pertencem.

A gente vai de ônibus porque quero ensiná-los a cuidar do próprio tempo e não ser atropelado por ele, porque quero ensiná-los a dar bom dia ao motorista e a agradecer quando ele nos deixa descer pela frente se o ônibus está mais cheio. A gente vai de ônibus para lembrar que o mundo é feito de gente diferente: brancos, pretos, orientais, velhos, jovens, crianças, todos na labuta, todos esperando alguma coisa, todos vencendo as distâncias que os separam de seus objetivos.

A gente vai de ônibus porque o sistema de transporte tem de ser nosso aliado e não nosso inimigo. Porque quanto mais gente quiser partilhar, compartilhar, ir junto, dar lugar, deixar passar, segurar a sacola do vizinho, ajudar a descer, ajudar a sair, cumprimentar, responder ao cumprimento, mais essa cidade vai se humanizar. E quanto mais humana ela for, mais nos sentiremos tranquilos por dentro, mais vamos deixar de cair na falácia da "Segurança", mais ela será nossa cidade. Ah! E ainda vai sobrar uns trocos para os presentes de Natal.