Isso aqui tinha um cheiro...
Encontrei macarrão. E avisei que seria macarrão. A recepção foi calorosa. Aí mentalmente fui para a geladeira. Manteiga de boa qualidade, tomates maduros e - ahhhhh! - linguiça calabresa defumada, comprada no intuito de virar feijoada, mas alçada, naquele minuto, à condição de estrela do macarrão do domingo. Mas isso eu não contei, seria uma surpresinha.
Comecei picando a cebola grosseiramente. Enquanto ela derretia junto com a manteiga e ia se tornando transparente, piquei o alho minusculamente e o tomate em pedaços largos. Assim que a filha saiu do banho e acusou o cheiro de cebola fritando na manteiga, era o ponto exato de juntar a ela tomate e alho. Deixei apurar um pouco ao mesmo tempo em que cortava a linguiça em quartos de círculo. 0,5 centímetro é a altura certa da fatia de linguiça. E, sim, isso faz toda a diferença. Foi uma calabresa inteira para a caçarola. Fritou um pouco junto com os outros ingredientes e ficou lá dentro da panela esperando o molho reduzir.
A água já fervia, o macarrão submergiu delicado, se entregando aos poucos ao calor. Ganhou sal e fez o trabalho lentamente. As borbulhas da água do cozimento da massa marcavam o chão e a essa altura apaguei o fogo do molho. Sempre acho que o molho deve descansar depois da intensidade a que é submetido. Afinal, ele precisou alcançar o pico do sabor em pouco tempo. Enquanto o macarrão terminava a caminhada para chegar ao ponto, coloquei - escondida - uma pitadinha de pimenta rosa desidratada no molho e mexi, bem suave. A ideia não era deixar ardido por igual, era oferecer pequenos teritórios de ardidura, encontrados pela língua assim, meio por acaso, como uma surpresa sorrateira.
Virei o macarrão na travessa, molho por cima e aí aquela tarefa de harmonizar o design do prato. Um tomate para cá, duas linguiças ali do outro lado e, voilà! Juro que era para ser um macarrão de fim de domingo... mas foi impossível...