sexta-feira, 23 de março de 2012

A FELICIDADE É FÁCIL E POSSÍVEL

Encontrei um amigo na fila da cantina da faculdade e, em pouco  mais de três minutos, chegamos à conclusão de que não é difícil ser feliz e que, na verdade, a felicidade é simples e barata. Estávamos, é claro, nos referindo à parte gastronômica e alimentar que compõe a felicidade (ou alguém duvida que comida e felicidade têm uma relação intensa uma com a outra?), uma vez que estávamos a caminho de um lanchinho no meio da manhã.

Olhei as duas estufas de salgadinhos e as prateleiras todas que sustentam as opções de comida nas duas cantinas e não encontrei nada que me fizesse feliz de fato. Esse amigo, outrora comilão como eu, hoje é um amante de chá e dá um baile no quesito silhueta. Não deixou, contudo, de ser um apreciador da boa refeição e - por isso mesmo - sofre como eu na hora de escolher o que comer nas lanchonetes da vida. Há, como vocês sabem, uma brutal diferença entre fazer o estômago feliz e se empanzinar. Para vocês terem ideia, a primeira atividade, mesmo que seja resolvida com comida calórica, não engorda. Juro. Já a segunda, mesmo que a comida seja pretensamente "light" (como croissant de brocoli, ou mini-torta de peito de peru), engorda só de se sentir o cheiro. Porque estômago feliz não é estômago entupido. Ouso dizer que é bem o contrário disso.

E o fato é que nessas cantinas e de lanchonetes, o que a gente vê mesmo é comida que empapuça, mas não alimenta nem faz feliz. Sejamos honestos. Por isso falei ao meu amigo - enquanto me decidia entre um enrolado de calabresa e um pão de batata recheado com frango com catupiry (Gzuis!!!) - que eu não ia achar nada ruim, nada mesmo, se por ali vendessem uma embalagem plástica com palitos de cenoura, aipo e pepino japonês e um molhinho feito de limão, azeite, sal e pimenta do reino. Vejam que simplicidade, mas reparem a alegria que mora nesse conjunto. Pessoas em volta da mesa, no intervalo das aulas, petiscando "finger-foods" alegres! Outra boa possibilidade seriam torradihas de pão francês com alho e tomate esfregados e um pouquinho de forno para aquecer. Quatro torradinhas no prato já me fariam a mais feliz das pessoas (e se a moça da cantina colocasse uma folhinha de manjericão fresco sobre cada uma das torradas, aí seria a glória!). Reparem que são soluções rápidas, baratas (pouco calóricas, vá lá) e cheias de sabor... Duvido que seja difícil produzir e aposto que muita gente ia querer.

Quando terminei minha digressão, meu amigo teve de concordar. A felicidade é fácil de ser alcançada, ainda que seja só no setor gastronômico. "Mas precisamos começar por algum lugar", arrematou ele, com a sabedoria de sempre.

domingo, 11 de março de 2012

BOLO DE LARANJA LEVINHO

Seis laranjas dormiam na fruteira e, ao me ouvirem entrar na cozinha, pediram para virar um bolo. Não resisto aos pedidos das frutas. Elas querem ser devoradas, mesmo que para isso seja necessário um certo disfarce. Aí eu fiz assim:

INGREDIENTES
5 laranjas
2 xic de açúcar
2 xic de farinha de trigo
1 xic de suco de laranja (natural! Se a laranja estiver azeda, melhor!)
3 ovos
2 col. de sopa de manteiga
2 col. de sobremesa de fermento em pó.

MODO DE PREPARO
Bata as claras em neve (vovó Regina ensinou a juntar uma colherinha de água para cada clara, assim ela cresce mais). Reserve.
Em outra vasilha, junte a farinha, o açúcar, a manteiga, as gemas e o suco de laranja e bata até a massa ficar homogênea. Quanto mais bate, mais fofinha fica. Junte o fermento e bata mais, até incorporar.
Junte as claras em neve e misture à mão, para não perder o aerado que as claras dão.
Coloque numa assadeira e leve ao forno pré-aquecido em temperatura média. Aqui em casa levou 40min.

Espere esfriar um pouco e desenforme. A gente comeu meio quentinho mesmo. Estava incrível, ó:

Minha sobrinha vai levar de lanche amanhã!

JARDINAGEM SENTIMENTAL

Minha filha ganhou, ao nascer, uma linda flor de maio, bem cheia e florida de rosa-choque. Foi uma amiga minha que, quando soube do nascimento da menina - tão perto do seu próprio - rompeu a distância física que nos separava e fez chegar esse presente especial. A flor de maio de minha filha deu muitas mudas e sempre floriu muito, inclusive fora de época, marcando as mudanças de estação sob o ponto de vista da natureza (domesticada, é verdade, mas natureza). Contudo, desde que montei o jardim suspenso aqui no hall de casa - talvez pela mudança de recipiente, talvez pelo novo lugar, sei lá - a planta começou a ficar fraquinha.... deixou de botar as mil folhinhas semanais que sempre botara, não floriu mais e parece sempre ressequida, um tanto tristonha.

Ao longo da semana, portanto, decidi que domingo daria um jeito nisso. Eu não podia ficar de braços cruzados esperando a bichinha morrer. E foi aí, fazendo o transplante e a adubação da flor de maio, que me dei conta de que meu jardim é, na verdade, um jardim sentimental.

Explico.

Tem uma planta que não sei o nome, mas que floresce umas florinhas miúdas e vermelhas, que ganhei de uma amiga ainda antes de casar. A matriz fica na casa da mãe dessa amiga, e já vinha de uma longa tradição de tiras de muda. Essa é a primeira lá em cima. O suporte que a mantém pertinho da janela do hall, um lugar que ela adorou tanto que se derrama toda para baixo, foi uma antiga chefe, atual amiga, quem me deu quando eu saí da empresa dela, como uma lembrança pelos bons serviços prestados.

Logo abaixo dessa planta derramada fica comigo ninguém pode. Presente do meu padastro. Vai tão bem que está tentando quebrar o vaso que a contém. Protege a casa e denuncia a pertença: somos uma casa brasileira e, como diz Marcelo Rosembaum, toda casa brasileira começa com um vaso de espada de são jorge e comigo ninguém pode.

Do lado oposto fica a grade do jardim suspenso, que além de sustentar as derivadas da flor de maio, ostenta orgulhosa uma flor da fortuna que meu filho ganhou ao nascer de outra amiga minha. Essa sofre para se manter viva, mas eu não descuido. Não é mais frondosa como quando chegou, há quase 6 anos, mas está lá brigando. No meio do gradil, pendurei hoje um gerânio (que é a casa de uma minhoca gordinha, que dançou muito ao som de Elis Regina logo cedo). Ele floresce vermelho claro. Tenho uma lembrança embaçada que quando meu irmão estava para nascer, meu pai fez um canteiro de gerânios. É, portanto, para mim, uma flor masculina, cheia de força. Este ano, as jardineiras que fazem companhia às janelas aqui do prédio, serão reformadas e poderemos voltar a plantar nelas. Gerânios serão os eleitos para ocupar esse mini-jardim que os apartamentos humildemente ofertam à São Paulo.

A orquídea que hoje subiu para o gradil veio da família do marido da minha irmã. Não sou muito boa com orquídeas, mas essa está lá, firme, apresentando folhinhas novas de um verde novo. Muita raiz. Não consegui que ela florisse, mas um outro amigo me disse que orquídeas são assim mesmo, tímidas, não se mostram sempre. Mas há que se insistir, porque numa manhã qualquer elas surpreendem e apresentam aquela armadilha perfeita que acostumamos chamar de flor.

A flor da minha mãe é antúrio e esse seu Antônio, meu vizinho aqui da frente, jardineiro de mão cheia, tratou de plantar. Pedi a ele uma mudinha assim que a flor que está lá agora secar. Ele me ensinou que muda a gente só tira quando a flor vai embora. Enquanto isso, rego o lírio branco - que vi a primeira vez na casa da minha mãe, há muitos anos, e quis ter um igual na minha casa (assim como o Santo Antônio, que morava na minha avó, na minha mãe, na minha irmã e aqui em casa também, claro). Lírios brancos são fortes e discretos. Não gostam de sol, resiste a tudo. O vaso que acolhe o meu está até pequeno para ele, mas o lírio não se abate. E flor, viu? duas vezes ao ano.

Faltam ali os temperos, que fazem sentido hoje para mim, e uma árvore frutífera que me traria o cheiro de infância. Ainda não escolhi qual, mas também não tenho pressa. Um jardim sentimental como esse aqui precisa de uma vida inteira para ficar pronto.