sábado, 8 de outubro de 2011

DONA PINA - e a arte de adoçar a carne e a vida

Este mês fiz compras pela internet, no Sonda. Estava com preguiça de encarar aqueles corredores, carregar peso, etc e tal. Gosto do serviço, dos produtos, do esquema todo, enfim, sou cliente. A parte que não gosto é a das carnes. Acha cara e, pior, pouco variadas. Aí seguindo a dica da minha sócia Andrea, fui ao açougue mais bacaninha da região e comprei as carnes que usaremos nos próximos dias.

São Paulo tem açougues incríveis e, principalmente, açougueiros muito bons, que tratam a carne com o maior carinho do mundo, não têm preguiça de fazer mil pacotinhos e ainda fazem uma embalagem à vácuo, com etiqueta e tudo. Uma belezinha! Mas, a bem da verdade, não foi nada disso que me fez gostar dessa ida às compras.

Enquanto eu esperava para pagar os cortes (e o açougueiro fazia as embalagens), entrou na minha frente uma senhora de uns 75 anos. E já chegou causando. Esbarrou na caixa que comportava os pacotes de farofa pronta e derrubou tudo lá para dentro do balcão. O atendente que cuidava das minha carnes agiu rápido, pegou as farofas no ar e, dando risada, mandou essa: "Dona Pina, a senhora chegou fazendo carnaval com as farofas?". Ela caiu na risada. E eu também. "Eu nem vi", respondeu ela, enquanto o açougueiro colocava tudinho no lugar e contava para ela o que tinha havido. Mas tudo no maior bom humor.

Aí ela pediu uma peça de carne "redondinha e de boa qualidade", o jovem que a atendia disse que tudo ali no açougue era de boa qualidade, a única coisa que não prestava era ele mesmo. Eu ri e Dona Pina perguntou o que ele tinha dito. Quando eu repeti, ela riu de novo. Velhinha bem humorada essa! Conversamos um pouquinho sobre como o açougue estava cheio, sobre a possibilidade de ser assim por estar perto do 5o dia útil, salários na conta. Demos algumas outras risadas.

Contei para ela, nesse momento, que tenho uma tia avó também chamada Pina (a gente vive num mundo tão besta que cheguei a achar que ela podia se ofender, imaginando que eu a estava chamando de velha por compará-la à minha tia avó, mas oras, ela é velha mesmo, qual o problema??). E Dona Pina, a do açougue, me contou que seu nome, em verdade, é Giuseppina, em homenagem à sua madrinha, também Giuseppina e filha de uma Giuseppa. "Mas minha madrinha era chamada de Bepa e eu fiquei Pina, desde criancinha. É um nome diferente...". Eu disse que achava aristocrático, ela riu, claro. E ainda contei que as duas irmãs de Pina são Pia e Pierina, essa última, minha avó. E ela achou engraçado novamente, "Parece conjunto musical!", concluiu.

E aí nossas compras ficaram prontas, pagamos e fomos embora. Ela com um sorriso nos lábios e eu com um gosto doce na vida. São Paulo, essa cidade imensa, cabe numa conversa de fila de açougue. E uma parte da vida de Dona Pina e da minha, também.

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